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16 de set. de 2013

Rock In Rio e totalitarismo cultural

Assistindo ao Rock In Rio na televisão, me impressiono com a adoração dos jovens, que transformam cantores em verdadeiros deuses do Olimpo. Não consigo entender. Milhares se espremem aos berros, choram, suplicam um simples toque do seu totem sagrado. Quem sabe uma toalha suja com suor, para guardar para sempre. Não, nem os deuses conseguem mais exercer tal fascínio sobre as massas.

No Brasil, num tempo em que o bundalelê vai se consagrando como a nossa marca cultural e a periguetagem se consolida como comportamento padrão, o showbizzness já foi muito melhor.  Não que eu goste da arte engajada. Mas, muito pior, é este engajamento que acaricia as fantasias de amor ilimitado que fazem o narcisismo da classe média confortável no Brasil. O engajamento agora é pelo ridículo, patético e vulgar. Todos querem ser da periferia, desde que no fim da noite voltem para seus confortáveis apartamentos no Leblon.

Foi Frank Sinatra, nos Estados Unidos dos anos 50, que iniciou o fenômeno de adolescentes tendo ataques de histeria em público. O filósofo Theodor Adorno, então exilado nos EUA, ficou horrorizado.  Viu nisso uma forma de totalitarismo cultural, em que a massa se submerge sensorialmente a um ruidoso cavalheiro de microfone, como alemães caíram sob a “hipnose” de Hitler. E olhem que Adorno não teve a oportunidade de ver John Lennon, filósofo, eros encarnado, em ação.

Voltando ao Rock In Rio, o nível das bandas piorou muito. Muitos cantores são patéticos. A estética se sobrepõe ao conteúdo, num pop sensual e narcisista.  Velhos cantores ainda tentam reviver um Rock que parece ter se perdido no tempo. Mas o público delira. Talvez pela ausência de perspectivas, ou de inimigos. Sem educação política e sem bagagem cultural, resta a esta geração lutar contra inimigos invisíveis criados pela imaginação. Ou simplesmente seguir a onda, replicando comportamentos bizarros só para contestar o sistema.

Beyonce no palco. O êxtase é total. Delírio. Fazer o que? Cada um toma o alucinógeno que lhe der na telha. A ressaca, depois, é que promete ser grande. E deve demorar passar. Talvez, algumas gerações.

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