Paulo Leandro Leal
Jornalista e empreendedor
Dizem os mais antigos que a Zona Franca criada em Manaus nos anos 70 pelo Governo Militar era para ser em Santarém. Um grupo de empresários locais teria se reunido e elaborado um documento recusando o projeto, alegando que o mesmo iria atrair muitas empresas de fora, gerando uma concorrência que iria prejudicar os empreendimentos locais. Verdadeira ou não, a história ganha veracidade no fato de Santarém, nos últimos anos, ter se tornado especialista em recusar oportunidades de desenvolvimento.
Localizada entre as duas maiores metrópoles da Amazônia (Manaus e Belém), Santarém não acompanhou, nem de longe, o ritmo de desenvolvimento destas duas cidades. Com localização privilegiada e clima privilegiado, Santarém se manteve como uma cidade de porte pequeno para médio, sem oferecer aos seus habitantes oportunidades de emprego e renda. Não à toa, milhares de jovens literalmente fogem para outros lugares em busca de oportunidades. Manaus registra o absurdo número de mais de 300 mil santarenos residentes naquela capital.
Um dos remédios apontados como a cura para o raquitismo econômico da cidade é a conclusão da Santarém-Cuiabá (BR-163), mas ainda hoje existem muitos líderes locais que são contrários ao empreendimento. Mesmo no setor empresarial há oposição daqueles que vêem seus “impérios” ameaçados pela chegada da concorrência. Pensamento pequeno. A criação de um corredor logístico seria um indutor do desenvolvimento, tirando Santarém da letargia e acordando esta cidade para um dos maiores desafios do novo século: a sustentabilidade.
As coisas caminhavam bem. Além de corredor logístico, Santarém se tornaria em breve grande produtora nacional de grãos, alcançando os mesmos níveis de desenvolvimento socioeconômico existentes em cidades onde o agronegócio vigora como principal indutor da economia. Mas uma campanha brutal afastou os investidores. De repente, investir em Santarém se tornou um negócio de altíssimo risco, com grandes riscos. Demorou-se mais de 10 anos para licenciar um porto, numa clara demonstração de que os operadores logísticos não eram bem vindo às terras mocorongas.
Como o mundo não para e o capital sempre encontra uma solução para os seus gargalos, o trade portuário descobriu a pacata vila de Miritituba, separada da cidade de Itaituba pelo Rio Tapajós. É lá que será construído um dos maiores complexos logísticos da América Latina, com capacidade para escoar mais de 20 milhões de toneladas de grãos por ano. Chegarão àquela vila mais de quatro mil carretas diariamente. Os investimentos somam mais de R$ 3 bilhões.
Não é preciso ser economista para calcular os impactos no desenvolvimento local. Miritituba deve pular de menos de 20 mil habitantes para mais de 200 mil em menos de 10 anos. E fará isso com elevados índices de qualidade de vida, como aconteceu em outras cidades onde o agronegócio se tornou a principal atividade econômica, como Sinop e Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso.
Santarém será beneficiada apenas indiretamente com o projeto. O que quer Santarém?
Aqui e ali, houve-se falar em aproveitar o potencial do turismo, que gera desenvolvimento com baixíssimos impactos sociais e ambientais. Até tentaram transformar nossas jovens em atrativos sexuais para turistas, em meio a uma mistura de folclore com improvisação meia boca no Sairé. Mas não deu certo. Conseguiram piorar uma tradição cultural e a transformaram em uma festa onde milhares de pessoas sem muito dinheiro no bolso ficam zanzando de um lado para o outro sem nada para fazer na vila de Alter do Chão. Falta profissionalismo. Falta estrutura. Falta tudo.
Santarém vai se consolidando como uma cidade universitária, onde os jovens adoram morar, mas têm que se mudar para outras regiões após se formarem. Aqui as oportunidades de emprego são escassas. E se paga muito mal.
E bem agora mesmo assistimos a mais uma ação que afasta investidores. Em pleno boom do setor imobiliário, vemos o Poder Público Municipal e o Judiciário criando toda a sorte de obstáculos para a instalação de empreendimentos. Que o Judiciário faça a sua parte. Mas que o próprio governo local atue contra investidores é algo surreal. O que se vê por ai são governos municipais correndo atrás de empresas para atraírem investimentos e empregos para as suas cidades.
Santarém não pode ser um paraíso exclusivo de uma elite que já encheu os bolsos e que não quer ser incomodada por concorrentes, por “gente de fora”. Está na hora de aproveitarmos todas as nossas vocações e darmos exemplo de desenvolvimento com sustentabilidade. Tomara que os governantes de plantão tomem consciência disso e foquem as suas energias na criação de oportunidades, ao invés de se apegarem à mesquinhez política ou ao ressentimento.
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