ÚLTIMAS

17 de out. de 2012

Belo Monte, política industrial e desenvolvimento


Paulo Leandro Leal

A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte vai gerar investimentos de cerca de R$ 26 bilhões. A parte deste total que vai impactar diretamente a economia paraense é uma questão relevante para se quantificar o desenvolvimento regional a ser gerado por este mega empreendimento.  Faltam números oficiais que possam embasar uma análise mais aprofundada, mas a “olho nu”, percebe-se que poderia haver uma internalização muito maior de riquezas, com a execução de uma política de desenvolvimento industrial mais eficiente e proativa.

Segundo a Rede de Desenvolvimento de Fornecedores (REDES) – programa desenvolvido pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), os grandes projetos estão cada vez mais conscientes da necessidade de focar suas aquisições de produtos e serviços nos fornecedores locais e regionais. Cálculo do programa aponta que em 2011 os grandes empreendimentos localizados no Pará destinaram 51% dos seus investimentos para adquirir de empresas do estado. Por este cálculo, poderíamos projetar que Belo Monte despejaria cerca de R$ 13 bilhões na economia paraense.

Mas é bem possível que o valor real não chegue à metade disso, se não forem criados mecanismos atrativos de investimentos e se não for colocada em prática uma política industrial mais agressiva. A própria REDES chegou à região de Belo Monte mais de um ano e meio de atraso em relação ao início das obras, devido à demora da empresa responsável pelo empreendimento, a Norte Energia, em se decidir por ser uma das mantenedoras do programa. Antes tarde do que nunca, mas sé preciso correr contra o tempo.

A cidade de Altamira, espécie de capital de Belo Monte, não possui iniciativas governamentais sérias e impactantes no que diz respeito ao incentivo ao desenvolvimento industrial. O setor empresarial tem investido às cegas, sem um direcionamento para atividades que possam agregar valor ao empreendimento âncora, no caso a construção da usina. Por falta de visão e de comprometimento da atual administração local, a cidade cresce sem nem mesmo definir verdadeiramente uma zona industrial.

O município de Vitória do Xingu, onde está localizada a maior parte das obras de Belo Monte, foi mais proativo e inteligente. Criou um Distrito Industrial localizado ao lado da casa de força principal da usina, para receber investimentos de empreendedores interessados em atender às obras de Belo Monte. O distrito conta com um porto próprio e está recebendo projetos imobiliários, com urbanização e infraestrutura, e deve atrair investimentos de mais de R$ 500 milhões. O governo municipal também está concedendo benefícios fiscais para as empresas que se instalarem na área.

Mas o verão de uma andorinha só não tem o mesmo calor. É preciso mais. O governo do Estado, por exemplo, se mantém à distância do processo, apenas cobrando dos empreendedores um volume maior de compras dos fornecedores paraenses. É pouco. É preciso incentivar melhor o empresário paraense, criando melhores condições de competitividade para que possam fornecer produtos e serviços para grandes projetos como Belo Monte. As dificuldades logísticas, por exemplo, formam um gargalo gritante. A alta carga tributária, um gargalo muitas vezes mortal para as empresas locais.

Por fim, é preciso aproveitar as oportunidades geradas com os recursos de Belo Monte para incentivar o desenvolvimento de cadeias produtivas não diretamente ligadas ao empreendimento. Trata-se de uma garantia de que, no futuro, a região não retorne ao mesmo marasmo econômico de antes da instalação do projeto. Mas há também falhas neste aspecto. Não se vê investimentos robustos, por exemplo, no fortalecimento das cadeias produtivas do cacau, do gado, do leite, da madeira, da mandioca, etc. Nem iniciativas que apontem o surgimento de novos segmentos econômicos.

Parece ter havido sempre uma preocupação excessiva com a questão ambiental de Belo Monte, deixando de lado os outros dois tripés que servem de base para o desenvolvimento sustentável: a economia e a questão social. Já sabemos que o projeto não será sinônimo de tragédia ambiental, mas já perdemos muita energia discutindo um problema para o qual já há solução. O que não podemos é perder o bonde da história e deixar passar esta excelente oportunidade de gerar desenvolvimento em grande escala para a nossa região e o nosso Estado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário ou sua mensagem para mim

@ 2014 - Todos os Direitos Reservados a VioNorte Comunicação Ltda - Desenvolvimento: